Memórias que a imprensa quer esquecer: Piratas da TV – saiba como jornalistas da BAND “vendiam” reportagens – parte 1
abril 11, 2013
Paulinho |
Há uma matéria da revista PLACAR,
assinada pelo jornalista Sergio Luiz Ruz, denominada “Os Piratas da TV”, que
boa parte da imprensa prefere esquecer.
Datada de 1996, escancarou como
jornalistas da BAND vendiam suas opiniões para benefício próprio (eram
empresários de jogadores), pouco se importando em fazer todo o púbico, que
neles acreditava, de idiotas.
Postaremos em duas partes, para
que o leitor possa conhecer um pouco mais da história da imprensa esportiva
brasileira.
Nesse caso, a lama.
Hoje, a reportagem em si, amanhã,
detalhes de negociações realizadas pelos jornalistas.
Entre os denunciados está o atual
dirigente da ACEESP, Octavio “Tatá” Muniz.
Entidade que tem como presidente
Luis Ademar, comentarista da SPORTV, além de dirigentes da estirpe de um
Leandro Quesada.
Louvável a atitude do narrador
Silvio Luiz, à época, que não se furtou a criticar duramente os denunciados,
mesmo sendo colega de trabalho da mesma emissora.
Demonstrando toda a sua
dignidade.
Bem diferente de Luciano do
Valle, chefe dos “jornalistas”, que se calou, e ainda convive na mesma
situação, nos dias de hoje, com companheiros de hábitos semelhantes, sem se
sentir minimamente incomodado.
Tome um “dramin” e confira
abaixo, sabendo, desde já, que qualquer semelhança com o que se passa
atualmente na tela da BAND está longe de ser mera coincidência.
OS PIRATAS DA TV
Eli Coimbra |
Da PLACAR
Por SERGIO LUIZ RUZ
“Repórteres faturam com a venda
de passes e promoção de jogos. O esquema clandestino de três jornalistas da
Bandeirantes reuniu 61 atletas e vinte treinadores e arrumou muita confusão.”
Há jornalistas que enxergam mais
coisas além de dribles, gols e esquema táticos quando estão diante de um
microfone ou assinam colunas especializadas.
Para esses profissionais, os
cifrões do mundo da bola são tentadores o suficiente para transformar o
entrevistado de hoje no contratado de amanhã.
Com acesso privilegiado a
atletas, técnicos e cartolas – sem falar no poder de elevar jogadores ao Olimpo
dos craques na mesma velocidade com que detonam carreiras e reputações -, eles
propõem os mais diferentes tipos de negócio às pessoas que deveriam ser apenas
o objeto de suas reportagens e comentários.
Casos como os de Eli Coimbra,
Luciano Junior e Octávio “Tatá” Muniz, da equipe esportiva da Rede Bandeirantes
e sócios da Sports General Business, firma especializada em intermediar a
compra e venda de jogadores, ou o de Luís Orlando, que acumula os cargos de
apresentador do programa “Camisa Nove” na rede CNT e empresário do artilheiro
Túlio, são bons exemplos de como alguns integrantes da imprensa não tem o
mínimo pudor em dar um bico na isenção e na credibilidade quando farejam
negócios vantajosos.
E que negócios !
O repórter e apresentador Luciano
Junior, por exemplo, ganhou do atacante Elivelton um carrão Alfa Romeo no valor
de R$ 32 mil por ter arranjado sua transferência do futebol japonês para o Corinthians.
É algo realmente tentador.
Com um salário de R$ 2,4 mil,
Luciano teria que suar a camisa durante um ano para economizar a mesma quantia.
Luis Orlando, do Camisa Nove, fez
uma jogada ainda melhor.
Gastou passagens, telefonemas,
fax e muita lábia para convencer os dirigentes do Botafogo de que a redenção do
clube estava nos pés de Túlio – na época desacreditado e exilado no frio suíço.
A comissão do persistente
jornalista atingiu US$ 150 mil.
Esses negócios, diga-se a
verdade, também renderam dividendos aos times.
Túlio é Túlio.
Elivelton anotou para o
Corinthians o gol do título no ano passado.
Quem não lucra quase nunca com
isso são os torcedores.
Sempre que algum dos jogadores de
Luis Orlando está na boca de uma boa transferência – a relação inclui o
ex-botafoguense Sérgio Manoel, de mudança para o Japão, e o vascaíno Juninho,
entre outros – o telespectador de seu programa é obrigado a aturar entrevistas
enchendo a bola do rapaz.
No caso da Bandeirantes, a lista
de atletas ligados aos jornalistas da casa é tão grande que gerou críticas
públicas até de um funcionário da emissora, o locutor Silvio Luiz.
Num depoimento exclusivo, ele
afirma sentir-se constrangido em trabalhar ao lado de Eli Coimbra, Luciano
Junior e Octávio Muniz.
OS SÓCIOS DA SPORTS GENERAL BUSINESS
SGB defendem-se dizendo que lidam
apenas com marketing esportivo.
Puro jogo de cena.
Analisando de perto as atividades
da SGB, PLACAR reuniu provas e evidências de que os jornalistas criaram um
amplo conceito de marketing esportivo, capaz de englobar mudanças de sedes de
jogos, vendas de serviços telefônicos e intermediação de transferência de
jogadores e técnicos.
Para salvar as aparências, os
profissionais da Bandeirantes não aparecem no Contrato Social da empresa.
Ali constam apenas os nomes Ivã
de Fiore Coimbra e Ely de Fiore Coimbra, advogados e filhos do comentarista Eli
Coimbra.
Antes da abertura da SGB, que
ocorreu em julho passado, Ivã atuava como procurador do ex-técnico Mario
Sergio, enquanto seu irmão foi durante três anos auditor do Tribunal da
Federação Paulista de Futebol.
A indicação para o cargo veio de
seu amigo, o presidente Eduardo José Farah.
“Apenas o Ivã e o Elizinho tratam
da compra e venda de jogadores e atuam como procuradores de técnicos”, jura
Luciano Junior, que se identificou como diretor de marketing da empresa.
Tatá seria o diretor de eventos e
Eli Coimbra o coordenador geral do
negócio.
Nas procurações e contratos
assinados pelos jogadores e técnicos ligados à empresa, no entanto, Tatá e
Luciano aparecem como beneficiários das comissões.
Assim, nos últimos meses,
dirigentes de alguns dos principais clubes brasileiros – Santos, Cruzeiro e
Atlético, entre outros – receberam listas de sugestões de atletas enviadas pelo
jornalista Luciano Junior.
A relação de contratados da
empresa atinge 61 jogadores – de garotos como o zagueiro são-paulino Bordon a
ídolos como o cruzeirense Roberto Gaúcho – , além de vinte técnicos, como
Carlos Alberto Silva, ex-técnico da Seleção, Valdir Spinosa, campeão mundial
pelo Grêmio, e Cesar Menotti, ex-Seleção Argentina.
“Consigo separar jornalismo e
negócios”, assegura Luciano Junior.
“Nunca confundi as coisas”, faz
coro Tatá.
“Comuniquei ao Luciano do Valle,
que é meu chefe, a existência da SGB.”, diz Eli Coimbra.
“Quando achar incompatível as
duas funções, peço demissão da Bandeirantes”, jura.
Procurado pela reportagem de
PLACAR, Luciano do Valle não quis falar sobre o assunto, mesma atitude adotada
pelo vice-presidente da emissora, José Roberto Maluf, citado por Silvio Luiz
como uma das pessoas que sabia das atividades da SBG.
No mundo da bola, são poucos os
que se arriscam a criticar a mistura entre jornalismo e negócios.
O presidente do Corinthians,
Alberto Dualib, é uma exceção.
“A função do jornalista é divulgar
as coisas, e não contratar jogador.”, entende.
Seus colegas, como o presidente
do Santos, Samir Abdul-Hak, preferem manter uma prudente distância sobre o
assunto.
“Recebi uma lista com vinte
jogadores para serem negociados, mas converso com eles como se fossem quaisquer
outros empresários.”, conta.
Enio Rodriguês, presidente da
ACEESP, entidade que reúne 900 profissionais, considera impossível um
jornalista fazer críticas isentas a um jogador ao mesmo tempo que pensa em
vende-lo no mercado:
“Sua liberdade comprometida e,
por mais honesto que o repórter seja, não há como evitar suspeitas.”, afirma.
“Se deseja virar empresário, o
correto é o jornalista afastar-se da imprensa”, aconselha Rodriguês.
“Senão é a mesma coisa que um
médico receitar remédios feitos em seu próprio laboratório”, complementa o
comentarista Juarez Soares, do SBT.
“As pessoas me conhecem há trinta
anos e sabem da minha seriedade”, diz Eli Coimbra, respondendo às críticas.
Seu sócio Tatá, que em 1994
liderou infrutífero movimento na Bandeirantes para que os jornalistas pudessem
vender serviços de tele-informações para complementar a renda, argumenta que,
apenas com seu salário declarado de R$ 2,3 mil, não é possível sobreviver, “só
se o cara for mágico”.
O sócio Luciano Junior emenda: Os
telespectadores sabem que, ao ligarmos o microfone, esquecemos nossos
negócios”.
OLHO NO LANCE
A ação dos jornalistas da empresa
SGB gerou mal-estar entre profissionais da emissora.
Silvio Luiz, um dos mais
conhecidos locutores do país, desabafa, em depoimento exclusivo a PLACAR:
“Sinto-me constrangido em
trabalhar com Eli Coimbra, o Luciano Junior e o Octávio Muniz.
Nunca sei quando as informações e
comentários deles tem ou não segunda intenções.
No último jogo entre Santos e
Guarani, pelo Campeonato Brasileiro, O Eli pediu desculpas por criticar a
atuação do atacante Robert.
Não sei porque ele pediu aquela
desculpa.
Há jornalistas sócios de empresas
que vendem placas publicitárias de estádios, como o Ciro José, da Rede Globo.
Vender placa não é vender
jogador.
Você não pode criticar ou elogiar
uma placa.
Embora eu também seja contra.
Acho que o profissional deve se
afastar de suas funções para entrar nesse tipo de negócio.
Foi o que aconteceu com o
Oliveira Junior, que deixou de ser repórter da rádio Globo para empresariar o
lateral Roberto Carlos.
Meus colegas deveriam seguir esse
exemplo.
Quando fiquei sabendo do caso,
fui conversar com o vice-presidente da emissora, José Roberto Maluf, que me
disse que a situação era desagradável e me pediu para esperar.
Estou esperando.
Não sei se o Luciano do Valle
sabia da história.
Não tenho o menor problema em
tornar pública minha opinião.
Meu contrato termina em abril. Se ele for rescindido antes disso, há uma multa prevista.
Falo apenas em meu nome, para me
resguardar "
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* Paulinho: Jornalista , 40 anos, editor do Blog do Paulinho, apresentador do Programa do Paulinho na rádio MidiaCast.
*Fonte:Blog do Paulinho
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