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Eduardo Maretti |
São Paulo – Escorando-se na regra
regimental de que apenas cinco CPIs podem funcionar simultaneamente na
Assembleia Legislativa de São Paulo, a maioria parlamentar do governador
Geraldo Alckmin (PSDB) especializou-se em produzir comissões de inquérito
esvaziadas de conteúdo político, com as quais barram ou retardam a investigação
sobre assuntos incômodos ao Poder Executivo – por exemplo, os abusos ocorridos
na a desocupação do bairro Pinheirinho, em São José dos Campos, em janeiro de
2012.
Nesta semana, a base alckmista no
parlamento estadual criou mais quatro dessas CPIs inofensivas, entre elas uma
que promete “investigar os problemas relacionados com o consumo de gordura
hidrogenada ou gordura trans, presentes principalmente nos alimentos
industrializados”.
A proposta é do deputado Roberto
Massafera (PSDB). As demais também têm parlamentares tucanos como proponentes:
da Cartelização do Mercado de Autopeças (Fernando Capez), da Pesca Predatória
(Maria Lúcia Amary) e de Empresas de Telemarketing (João Caramez).
As CPIs têm prazo de 120 dias,
prorrogáveis por mais 60. Antes das recém-criadas, os parlamentares se
dedicaram a “investigar” temas como a Reprodução Assistida, o Consumo Abusivo
de Álcool, o Parcelamento sem Juros e os Serviços Odontológicos. Só a primeira
(Reprodução Assistida) terminou com relatório final. A CPI dos Serviços
Odontológicos, 20 meses após ser criada (em 13 de abril de 2011), não havia
sequer nomeado o presidente, o que provocou seu encerramento.
Segundo a assessoria do deputado
tucano Fernando Capez, entre as motivações da CPI proposta para “investigar, em
profundidade, a extensão de inúmeras irregularidades que acontecem no mercado
de autopeças” está a de que “o tradicional mercado independente de autopeças
sofre com a pressão dos grandes grupos econômicos”. De acordo com o deputado,
essa pressão “obriga empresas com mais de 50 anos de mercado a atuarem como
verdadeiros clandestinos, desonestos, criminosos, o que não está certo e
deveria merecer maior atenção dos órgãos regulamentadores responsáveis por esse
desequilíbrio”. Os direitos do consumidor e a manutenção dos empregos gerados
pelo segmento são outros dois fatores elencados como justificativas da CPI.
Para o deputado Carlos Gianazzi
(PSOL), a nova Mesa Diretora, eleita no último dia 15 de março, que colocou o
deputado Samuel Moreira (PSDB) na presidência da Assembleia, não trará
novidades e a Casa continuará sendo “representante” dos interesses do Palácio
dos Bandeirantes. “Não vai mudar nada. A Assembleia Legislativa continuará
sendo apenas um departamento, uma extensão do governo estadual. O governador
Alckmin vai continuar pautando o funcionamento do parlamento, seja nas
comissões, seja na pauta de votações, seja nas CPIs”.
Giannazi diz que o novo
presidente, o ex-líder do governo Samuel Moreira, “é um homem de diálogo e
íntegro, mais aberto e flexível, mas isso não significa que o governo abra mão
de controlar o parlamento”. O deputado diz que as quatro CPIs que estão sendo
instaladas esta semana “são cosméticas, aprovadas só para inglês ver e obstruir
as CPIs da oposição”.
Entre as CPIs contrárias aos
interesses do governador citadas por Giannazi estão a dos Pedágios, da Crise da
Segurança Pública, da Dersa e do Metrô, que apurariam “denúncias de malversação
do dinheiro público e improbidade administrativa”. “É uma vergonha para a
Assembleia Legislativa aprovar CPIs como da gordura trans, do telemarketing,
que não apuram nada nem ninguém”.
A deputada tucana Maria Lúcia
Amary, que propôs a comissão da Pesca Predatória, diz que “as CPIs são
regimentais e fazem parte do papel do parlamentar”. Segundo ela, “é obrigação
dele investigar, mas tem de ser de interesse do setor [no caso, de Pesca] e
principalmente público”. Uma CPI, afirma, não deve ser necessariamente
política. “Tem que justificar a abertura [da CPI] e ter argumentos para
apuração. Não concordo com CPIs que sejam instauradas apenas por razões
políticas.”
Ela diz ainda que a CPI da Pesca
Predatória “é de extrema importância para preservação ambiental e conservação
de várias espécies de peixes e animais de rios e mares que dependem diretamente
dos peixes”. A comissão se faz necessária, em sua opinião, porque “o ramo da
pesca é muito importante, porém é pouco fiscalizado e às vezes é deixado de
lado. Por isso a instauração da CPI”, justifica.
'Temas sensíveis'
Segundo a liderança do PT, dos 20
pedidos de CPI protocolados na atual legislatura, iniciada em 2011, 17 são de
deputados da situação, entre os quais 13 do PSDB. Como são muitas as propostas
de CPIs da situação e apenas cinco podem funcionar simultaneamente, forma-se
uma lista de espera e os inquéritos sobre temas que a oposição gostaria de
apurar não têm vez.
Estão entre esses temas
“sensíveis ao governo” a expulsão de moradores do Pinheirinho. Das que não
chegaram nem a 32 assinaturas suficientes para entrar na fila figuram a da
crise da segurança e da educação pública, esta do próprio Giannazi.
Entre as CPIs que aguardam na
fila para serem criadas, está a da Fundação para o Desenvolvimento da Educação
(FDE), para investigar eventuais ilícitos administrativos em licitações de
contratos (proposta pelo deputado Enio Tatto – PT) e a CPI dos Pedágios
(Antonio Mentor), para apurar os valores cobrados dos usuários das rodovias paulistas.
Para Giannazi, “mesmo que as CPIs
da FDE e do Pedágio acabem sendo constituídas, serão controladas pelos membros
do governo, que tem maioria e terá o maior número de deputados”.
*Eduardo Maretti: Jornalista formado pela PUC. Já trabalhou nos jornais Folha
de S. Paulo, Estadão e na revista Fórum. Atualmente edita o Visão Oeste.
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