A Comissão Nacional da Verdade
foi o alvo escolhido pelos clubes Militar, da Marinha e da Aeronáutica em
mensagem “à nação brasileira” pela passagem dos 49 anos do golpe de 1964 – ou
"revolução", como preferem os defensores do movimento. Em nota, as
entidades atacam os “democratas arrivistas” e reafirmam que a intervenção de
quase cinco décadas atrás ocorreu para preservar a ordem.
Segundo os clubes, as ações das
Forças Armadas desde o início da República garantiram sua credibilidade. “Não
foi por outro entendimento que o povo brasileiro, no início da década de 1960,
em movimento crescente, apelou e levou as Forças Armadas Brasileiras à
intervenção, em Março de 1964, num governo que, minado por teorias
marxistas-leninistas, instalava e incentivava a desordem administrativa, a quebra
da hierarquia e disciplina no meio militar e a cizânia entre os Poderes da
República”, diz a nota, divulgada nesta quinta-feira (28), mas com data de 31
de março, assinada pelos presidentes do Clube Militar, general do Exército
Renato Cesar Tibau da Costa, do Clube Naval, vice-almirante Ricardo Antonio da
Veiga Cabral, e do Clube da Aeronáutica, tenente brigadeiro-do-ar Ivan Moacyr
da Frota.
Essa intervenção, afirmam os
militares, teria beneficiado o país em várias setores (economia, comunicações,
transportes, social, político), “além de outros que a História registra e que
somente o passar do tempo poderá refinar ou ampliar, como sempre acontece”. Mas
– acrescentam – as “minorias envolvidas na liderança da baderna que pretendiam
instalar no Brasil” tentaram se organizar e, financiadas por capital
estrangeiro, “iniciaram ações de terrorismo, com atentados à vida de inocentes
que, por acaso ou por simples dever de ofício, estivessem no caminho dos atos
delituosos que levaram a cabo”.
Nesse trecho da mensagem entram
os ataques à Comissão da Verdade. “E que não venham, agora, os democratas
arrivistas, arautos da mentira, pretender dar lições de democracia. Disfarçados
de democratas, continuam a ser os totalitários de sempre”, afirmam, apontando
uma resolução da CNV, de agosto de 2012, que definiu sua área de investigação
as violações de direitos humanos praticadas “por agentes públicos, pessoas a
seu serviço, com apoio ou no interesse do Estado”. Para os militares, a
comissão alterou a Lei 12.528 (que criou a própria CNV) a fim de “'varrer para
debaixo do tapete' os crimes hediondos praticados pelos militantes de sua
própria ideologia”.
Segundo o jornal O Estado de S.
Paulo, em fevereiro o brigadeiro Ivan Frota procurou o então presidente da
comissão, Cláudio Fonteles, para encaminhar em nome da Academia Brasileira de
Defesa (ABD), que ele preside, documentos e publicações para que servissem de
"subsídios para a apreciação isenta dos fatos". Em entrevista, o
militar disse que a CNV "tem trabalhado em uma direção única", sem
dar direito à defesa ao "outro lado".
No manifesto referente aos 49
anos do golpe, os representantes militares criticaram o que chamam de
terrorismo daqueles que "almejavam empalmar o poder para fins
escusos". Não fazem referência as ações praticadas pelo "outro
lado", representado pelo Estado, exatamente o foco das investigações
feitas pela comissão, que em maio completará metade de seu mandato de dois
anos.
A nota é divulgada no dia em que
se completam 45 anos da morte, pela polícia, do estudante paraense Edson Luís
de Lima Souto, de 18 anos, durante protesto no Rio de Janeiro. Em 13 de
dezembro daquele ano (1968), o governo baixaria o Ato Institucional número 5
(AI-5), formalizando a fase mais dura do regime iniciado em 1964.
Fonte: Rede Brasil Atual
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