Carta não perdoa Civita por
entrega de sua cabeça à ditadura
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| Danilo Zanini |
Em entrevista aos alunos da
PUC-Campinas, o jornalista Mino Carta fundador das revistas Veja, Isto É, Carta
Capital e Quatro Rodas conta que os donos da editora Abril Victor Civita e seu
filho Roberto Civita o “venderam” em troca de
um empréstimo de 50 milhões de dólares. No momento em que revive suas
emoções, o Michelangelo das revistas perde o controle e afirma que duas vezes
tentou bater no Roberto Civita “Minha cabeça foi vendida por 50 milhões de
dólares.Eu tentei duas vezes dar um murro na cara do Roberto Civita, e ele
fugiu! Escreve isso, ele fugiu”, conta Carta
O episódio culminou na saída do
jornalista da editora Abril, Mino Carta que foi ele que se demitiu, não foi
demitido como contam os Civita. Carta relembra que foi Richard Civita, irmão de
Roberto, que, durante uma partida de tênis contaria para Carta sobre as
dificuldades financeiras da editora Abril, o empréstimo de 50 milhões de
dólares proposto pela Caixa Econômica Federal a mando dos líderes da Ditadura
que só seria possível se os Civita aceitassem a troca:o dinheiro pela saída de
Carta da Abril. Dá primeira vez que toca nesse assunto não estoura em
sentimentos e até brinca “Vocês viram como valho muito?”
A entrevista não foi apenas
marcada por essa declaração, houve momentos de forte crítica as elites
brasileiras e a sociedade. “Nós tivemos a pior elite do mundo. Os brasileiros
são os herdeiros da casa grande né. Eu acho que a tragédia brasileira são três
séculos e meio de escravidão e uma elite cafajeste, vulgar, prepotente,
arrogante, incapaz, incompetente, muito incompetente, muito ignorante. Nossa
elite é uma tragédia”, conclui o jornalista.
O italiano, radicado no país
desde os doze anos analisa que o Brasil
ainda não é uma nação por não ter uma identidade. Ele afirma que o povo brasileiro
é infantil e estupidamente festeiro, colocando a culpa nas elites coloniais e
da república velha. “Mas o problema do Brasil é que sofreu algo monstruoso que
foram os três séculos e meio de escravidão. É que essa elite é tão calhorda que
ela permitiu o inchaço das cidades. Então, há uma péssima distribuição da
população brasileira dentro do território brasileiro, tão ruim quanto à
distribuição de renda. A nossa distribuição de renda nos coloca ao nível da
Nigéria e de Serra Leoa”, contextualiza Carta.
O diretor de redação da Carta
Capital ainda condena os escolhidos pela presidente Dilma Roussef para compor a
Comissão da Verdade. Na opinião de Mino Carta, os integrantes deveriam ser
pessoas que estiveram envolvidas, sentiram os problemas. “E por que chama
pilantras notórios? Nelson Jobim na comissão da verdade? Paulo Sérgio Pinheiro
na comissão da verdade? José Carlos Dias na comissão da verdade? Isso é uma
piada! Ou a Dona Dilma está confusa ou enganada, está sendo enganada ou está
tudo errado”, defende o jornalista.
Mino Carta ainda critica as
faculdades de jornalismo, afirma que os cursos de comunicação são corporativos
e que foram criados pela ditadura. Apesar de analisar que não é mais possível
acabar com os cursos, ele aconselha que o estudante faça uma graduação de
História ou Ciências Sociais e apenas posteriormente fazer uma pós – graduação
em Jornalismo. “Para a prática profissional o jornalista deve ter uma busca
canina pela verdade factual, um espírito crítico, e o dever de fiscalizar o poder”
Apesar dos problemas com os
Civita, o ítalo – brasileiro revela carinho com os veículos que criou. Ele
afirma gostar da Veja que criou e da Revista Quatro Rodas. “A Quatro Rodas foi
um sucesso de mercado realmente. Era um momento muito oportuno, porque estava
nascendo a indústria automobilística brasileira”, diz Carta que observa que as
revistas criadas foram uma aventuras complicadas por levar muito tempo para se
afirmar, como no caso de Veja e da Carta Capital. Mas brinca que sempre teve
que inventar seus empregos: “São revistas que eu inventei para poder garantir
um salário”.
Abaixo parte da entrevista, em
Mino Carta conta da sua relação com Roberto Civita:


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