Boaventura de Sousa Santos, diz que o continente está virando “um miniatura do mundo, com países de primeiro, segundo e terceiro mundos” |
por Agência Brasil |
A crise econômica está fazendo a
Europa deixar de ser o continente em que as políticas sociais diminuem os
efeitos das desigualdades econômicas e permitem uma boa qualidade de vida ao
conjunto da população. “Querem criar o Estado de Mal-Estar na Europa”, critica
Boaventura de Sousa Santos, o sociólogo português mais conhecido no Brasil,
fazendo referência ao antigo Welfare State [Estado de Bem-Estar] criado na
Europa, a partir do final da 2ª Guerra Mundial (1945).
Segundo Boaventura, a Europa está
deixando de ser um continente de primeiro mundo para tornar-se “um miniatura do
mundo, com países de primeiro, segundo e terceiro mundos”. Ele se refere ao
empobrecimento de alguns países e a falta de proteção aos cidadãos, como
acontece em Portugal, na Espanha e na Grécia, mas com reflexos em todo o
continente.
Para o sociólogo, o modelo de
governança da União Europeia esvaziou-se e o projeto está desfeito de forma
irreversível. Ele atribui ao “neoliberalismo” os problemas enfrentados pelo
continente, como o desemprego. “Esta crise foi criada para destruir o trabalho
e o valor do trabalho”, disse, ao encerrar em Lisboa um colóquio sobre
mobilidade social e desigualdades.
Conforme os dados do Eurostat, há
26,5 milhões de pessoas desempregadas nos 27 países – contingente superior a
toda a população na Região Sul do Brasil (Censo 2010). Para o sociólogo, parte
das demissões ocorre por alterações nas regras de contratação. “Mudam os
contratos de trabalho, mas não mudam os contratos das PPPs”, disse se referindo
às parcerias público-privadas contratadas entre governos e companhias
particulares para a exploração de serviços como concessionários ou de
infraestrutura.
Além da inflexão na economia e no
plano social, Boaventura assinala transformações políticas, como o esvaziamento
do poder decisório dos parlamentos, e dos lugares de “concertação social”, como
os portugueses chamam os conselhos e pactos criados para diminuir conflitos
entre empresários, trabalhadores e governo. Na opinião do sociólogo, em vez
dessas instâncias, se impõe a vontade dos credores externos, como acontece em
Portugal, segundo ele, por causa da Troika (formada pelo Fundo Monetário
Internacional, o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia).
Boaventura Sousa Santos diz que a
ação direta da Troika leva à imobilidade do governo e questiona a racionalidade
dos cortes dos gastos sociais que estão sendo feitos. Na Assembleia da
República, o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, disse que haverá
convergência das pensões e aposentadorias de ex-funcionários públicos e
ex-empregados privados. O chefe do Executivo português afirmou que não é uma
opção ajustar a economia e mudar direitos adquiridos. “O país tem que ajustar”,
defendeu
A oposição critica, diz que a
medida é inconstitucional, e reclama do governo por tratar a austeridade como
inevitável. De acordo com o secretário-geral do Partido Socialista, António
José Seguro, em menos de dois anos de mandato de Passos Coelho 459 mil empregos
foram cortados - quase a metade dos 952,2 mil desempregados contabilizados em
março.
Nenhum comentário:
Postar um comentário