sábado, 10 de agosto de 2013

Andrea Matarazzo arrecadou junto à Alstom para campanha de FHC

O vereador Andrea Matarazzo, mencionado em planilhas da investigada Alstom


Empresa francesa, dona de contratos com governos tucanos, foi punida em vários países onde foi investigada por corrupção. No Brasil, foi blindada pela Assembleia Legislativa e a imprensa




por Helena Sthephanowitz


Candidato à reeleição, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), parece  não se sentir constrangido em aparecer na imprensa com o discurso de “eu não sabia”. Se houve cartel, diz ele, o estado é "vítima" e buscará o ressarcimento.

As investigações sobre a existência de propina denunciada pela Siemens apontaram que já existiam indícios de esquemas ilegais nos processos de fornecimento de equipamentos em 1998, na gestão do governador Mário Covas, também do PSDB.

Em 2008, o jornal americano Wall Street Journal revelou que a Alstom estava sendo investigada na França e na Suíça por ter pagado propinas em vários países. Posteriormente, a empresa foi investigada e punida em quase todos os países. Menos no Brasil, graças à blindagem da Assembleia Legislativa e da imprensa.

Serra, Alckmin, Mario Covas... E se mexer mais um pouquinho o cordão de tucanos aumenta mais. Ontem (6), a Polícia Federal indiciou o vereador paulista Andrea Matarazzo (PSDB) por considerar que ele recebeu propina da Alstom quando foi secretário estadual de Energia, em 1998. A PF investigou negócios do grupo francês com o governo de São Paulo entre 1995 e 2003 – governos Covas e Alckmin.

Duas empresas do grupo Alstom foram citadas nas planilhas eletrônicas do comitê financeiro do PSDB que teriam abastecido o caixa dois da campanha do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à reeleição, em 1998. As empresas são a Cegelec e a ABB. As planilhas atribuíam a Matarazzo, então secretário de Energia, a missão de buscar recursos junto a empresas.

As estatais de energia eram os principais clientes da Alstom no governo paulista. Em 1998, Matarazzo acumulou o cargo de secretário com o de presidente da Cesp. O vereador nega.

Memorandos internos trocados em 1997 entre diretores da Alstom, na França, apreendidos por promotores da Suíça que investigam operações do grupo, diziam que seriam pagas "comissões" sobre contratos negociados com o governo paulista.

Num desses memorandos, um diretor da Cegelec em Paris se disse disposto a pagar 7,5% para obter um contrato de R$ 110 milhões da Eletropaulo. A Alstom comprou a Cegelec naquele ano. Os papéis citam que a comissão seria dividida entre "as finanças do partido", "o Tribunal de Contas" e "a Secretaria de Energia". A Eletropaulo era subordinada até abril de 1998 à pasta dirigida por Matarazzo.

O ano de 1998 foi marcado por eventos relacionados às investigações iniciadas na Suíça:

1) O contrato em que a Cegelec dizia estar disposta a pagar uma comissão de 7,5% foi firmado naquele ano;

2) Foram feitas  duas transferências de dólares ordenadas pela Alstom francesa, que foram parar na conta da offshore MCA Uruguay Ltd., nas Ilhas Virgens Britânicas, controlada pelo brasileiro Romeu Pinto Júnior, no valor de US$ 505 mil, que seriam usados na propina.

Com a privatização da Eletropaulo, o contrato de R$ 110 milhões foi herdado pela Empresa Paulista de Transmissão de Energia (EPTE), outra estatal paulista. Com a reeleição de Fernando Henrique Cardoso em 1998, Matarazzo assumiu no ano seguinte o cargo de ministro-chefe de Comunicação da Presidência.

Com Fernando Henrique na presidência, a Alstom, um dos maiores grupos do mundo na área de energia e transportes, tinha contratos à época também com estatais da União, como Petrobras, Eletrobras e Itaipu. Reportagem do jornal Folha de S.Paulo de dezembro de 2000 mostrou que Matarazzo arrecadou ao menos R$ 3 milhões para o caixa 2 tucano. Na planilha com as metas de arrecadação, aparece o nome "Andrea Matarazzo - MM". Além da relação das empresas, a planilha menciona nomes de diretores ou contatos a serem procurados pelos arrecadadores de campanha.

Rombos e desvios praticados pelo PSDB e publicados pela mídia, ainda que sem citar os nomes dos políticos tucanos ou partido, são apenas a ponta de um icerberg. Se a Justiça aprofundar as investigações, provavelmente encontrará evidências de negociações também no Rodoanel, apelidado de “Rouboanel” nos bastidores.

E no meio da série de denúncias envolvendo o alto tucanato paulista, cabe a pergunta: por onde anda o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), o rei das CPIs contra os adversários políticos. Sumiu? Tirou férias?

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