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Ministro Paulo Bernardo, das Comunicações |
As declarações do ministro das Comunicações, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo no dia 19/3, constituem afronta à disciplina partidária. Sempre ausente nos debates organizados pelo PT e os movimentos sociais sobre o marco regulatório de sua área, Paulo Bernardo decidiu recorrer a um jornal adversário de seu partido para atacar publicamente resolução do diretório nacional da agremiação, em um tom de quase escárnio.
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Breno Altman |
Se o PT deixar tal comportamento sem
resposta à altura, estará abrindo perigoso precedente para sua autoridade. Um
governo de coalizão, afinal, é produto da aliança entre partidos, mesmo no
sistema presidencialista. Não é um acordo entre o chefe de Estado e indivíduos
que agem a seu bel prazer. Claro que a presidente pode nomear o assessor que
bem quiser, como manda a Constituição, mas os partidos têm que deixar claro
quem fala ou não em seu nome, para o bem da democracia.
Um fato recente, aliás, ilustrou
essa regra do jogo. O PDT, agrupamento mais frágil e inorgânico que o PT,
exigiu que o ministro do Trabalho, Brizola Neto, fosse substituído por um nome
que melhor representasse a posição partidária. Sem qualquer juízo de valor
sobre a troca, a atitude dos pedetistas foi pertinente. A presidente logo o
compreendeu e negociou a substituição reivindicada.
O caso de Paulo Bernardo é muito
mais grave. Diferentemente do caso citado, o ministro paranaense optou por um
discurso de ruptura contra a orientação que o PT defende para o setor. Assumiu
o papel de porta-voz dos interesses das grandes corporações de comunicação e
telefonia. A presidente Dilma Rousseff pode até concordar com seu auxiliar e
mantê-lo no posto, pois faz parte de seu livre-arbítrio presidencial. Mas se o
PT não afirmar claramente que Bernardo quebrou laços de confiança, sairá
diminuído do episódio.
A senadora Heloísa Helena e
outros parlamentares, no início do governo Lula, foram corretamente punidos
porque votaram contra a orientação petista na reforma da Previdência. Não
importa o mérito. Representantes públicos de um partido devem se submeter ao
coletivo e suas instâncias. Se não o fazem, devem ser excluídos de suas
funções. Não há outro caminho, na democracia, para o fortalecimento das
instituições, a não ser que se aceite que carreiras pessoais sejam o epicentro
da vida política.
No parlamentarismo, ao PT caberia
votar moção de censura e derrubar o ministro, além de submetê-lo às regras
estatutárias. Inexistindo esse instituto em nosso atual ordenamento, uma nota
de condenação seria o mínimo razoável. Deixando claro à sociedade e à
presidente que Paulo Bernardo não tem mais seu apoio para continuar no governo.
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