Nos 10 anos da invasão iraquiana, o ex-soldado e ativista Tomas Young anuncia seu protesto mais contundente: o suicídio.
![]() |
Tomas Young e sua mulher Cláudia |
![]() |
Kiko Nogueira |
Tomas Young tinha 22 anos quando
se alistou no exército americano. Foi dois dias depois dos ataques às Torres
Gêmeas, em 11 de setembro de 2001. Tomas, que era de Kansas City, não foi o
único jovem a tomar essa decisão naquele momento.
O acidente transformou Young num
dos mais contundentes ativistas contra a Guerra do Iraque. Em 2007, sua história
foi contada no documentário Body of War, que mostra de maneira crua seu
dia-a-dia. (Você pode assistir na íntegra aqui)
Tomas Young está com raiva de
George W. Bush e vai se vingar. Como?
Se matando.
Ele anunciou que quer morrer em
abril ou maio. Nas próximas semanas, vai parar de tomar medicamentos e abrir
mão da alimentação parenteral. Disse que a deterioração de seu corpo o impede
de fazer de outro jeito e que não quer que sua mulher participe diretamente
desse ato – ministrando uma overdose de pílulas para dormir, por exemplo.
Claudia, assim como as pessoas próximas do casal, apoia a decisão. “Quando eu
partir, quero estar alerta e consciente”, afirmou para o jornalista Chris
Hedges. “Quem quiser pode me ligar para se despedir. É uma maneira mais justa
de tratar as pessoas do que deixar uma nota de suicídio”.
Na verdade, ele deixou mais que
uma nota: uma carta aberta endereçada a Bush e seu vice Dick Cheney, de um
“veterano que está morrendo”. Young os acusa de “crimes de guerra colossais, pilhagem
e finalmente assassinato.”
![]() |
Busch e Cheney: "crimes de guerra, pilhagem e assassinatos |
Eis alguns trechos:
Eu escrevo essa carta em nome de
maridos e mulheres que perderam seus entes queridos, em nome das crianças que
perderam seus pais, em nome de pais e mães que perderam filhos e filhas.
Eu não estaria escrevendo esta
carta se tivesse sido ferido em combate no Afeganistão. Eu não teria que ficar
na minha cama, o meu corpo cheio de analgésicos, minha vida desaparecendo, e
lidar com o fato de que centenas de milhares de seres humanos, incluindo
crianças, inclusive eu, foram sacrificados por vocês pela ganância de
companhias de petróleo, por sua aliança com os xeques do petróleo na Arábia
Saudita, e por suas visões insanas de império.
Eu não entrei no exército para ir
para o Iraque, um país que não teve participação nos ataques do 11 de Setembro
e não era uma ameaça a seus vizinhos, muito menos aos Estados Unidos. Eu não
entrei no exército para para “liberar” iraquianos ou desativar fábricas
fantasiosas de armas de destruição em massa ou para implantar o que vocês
cinicamente chamaram de “democracia” em Bagdá ou no Oriente Médio.
Nós fomos usados. Nós fomos
traídos. Nós fomos abandonados. Você, senhor Bush, se diz um cristão. Mas mentir
não é pecado? Matar não é um pecado? Roubo e ambição egoísta não são pecados?
Eu não sou um cristão. Mas eu acredito no ideal cristão. Eu acredito que o que
você faz para o menor de seus irmãos você faz para si mesmo, para sua própria
alma.
Meu ajuste de contas está por
vir. O de vocês vai chegar. Espero que vocês sejam levados a julgamento. Mas,
principalmente, eu espero que vocês encontrem a coragem moral para enfrentar o
que fizeram para mim e muitos outros que mereciam viver. Espero que antes que
seu tempo na Terra termine, como o meu está agora para terminar, vocês
encontrem a força de caráter para estar diante do público americano e do mundo,
e em particular do povo iraquiano, e implorar por perdão.
* Kiko Nogueira: Jornalista e Editor da Revista ALFA
* Fonte: Diário do Centro do Mundo
Nenhum comentário:
Postar um comentário