A entrevista de Dirceu à Folha
mostra que algo de urgente deve ser feito para que o Supremo não fique
desmoralizado.
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Fux fez uma louca cavalgada em busca do STF, e uma parada vital foi em Dirceu |
Feliciano pode continuar onde
está?
Os brasileiros parecem ter a
resposta já consolidada para isso.
E o juiz Luiz Fux, pode?
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Paulo Nogueira |
Esta é outra discussão que deve
ser travada em caráter de urgência pela sociedade brasileira, dada a
importância do Supremo Tribunal Federal, do qual Fux é um dos integrantes.
A entrevista que a Folha publica
hoje com José Dirceu, o réu entre os réus do Mensalão, grita isso – que se verifique se Fux pode
permanecer no Supremo.
Um juiz desmoralizado desmoraliza
o STF: este é o ponto.
Na entrevista, Dirceu afirma que
Fux o procurou durante seis meses em busca de apoio para sua nomeação para o
STF.
Fux estava um degrau abaixo, no
STJ. Dirceu era então um homem de grande influência no governo, e Fux tinha uma
ambição desmedida.
Segundo Dirceu, quando o encontro
foi enfim realizado, Fux prometeu a ele
que o absolveria no julgamento.
Deu no que deu.
As acusações de Dirceu,
evidentemente, têm que ser investigadas. Mas seja lembrado que à mesma Folha
ele admitiu já ter sim corrido atrás de Dirceu na sua louca cavalgada pelo
Supremo.
Escreveu a Folha depois de ouvir
Fux, há alguns meses: no último ano do
governo Lula, “Fux “grudou” em Delfim
Netto. Pediu carta de apoio a João Pedro Stedile, do MST. Contou com a ajuda de
Antônio Palocci. Pediu uma força ao governador do Rio, Sergio Cabral. Buscou
empresários. E se reuniu com José Dirceu, o mais célebre réu do mensalão.”
Fux admitiu, para a Folha, a reunião. “Eu fui a várias
pessoas de SP, à Fiesp. Numa dessas idas, alguém me levou ao Zé Dirceu porque
ele era influente no governo Lula.”
O contato mais explosivo,
naturalmente, foi o com Dirceu. Na época, as acusações contra Dirceu já eram de
conhecimento amplo, geral e irrestrito. E Dirceu seria julgado, não muito
depois, pelo STF para o qual Fux tentava desesperadamente ser admitido.
Tudo bem? Pode? É assim mesmo que
funcionam as coisas?
Fux afirma que quando procurou Dirceu
não se lembrou de que ele era réu do Mensalão. Mesmo com o beneficio da dúvida,
é uma daquelas situações em que se aplica a grande frase de Wellington; “Quem
acredita nisso acredita em tudo”.
Fux demostra uma falta de
equilíbrio inaceitável para o Supremo. Considere a narração dele próprio do
encontro que teve com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, no qual
acabaria recebendo a notícia de que atingira o objetivo: estava no STF.
“Aí eu passei meia hora rezando
tudo o que eu sei de reza possível e imaginável. Quando ele [Cardozo] abriu a
porta, falou: “Você não vai me dar um abraço? Você é o próximo ministro do
Supremo Tribunal Federal”. Foi aí que eu chorei. Extravasei.”
Fux, no julgamento, chancelou
basicamente tudo que Joaquim Barbosa defendeu, para frustração e raiva das
pessoas que ele procurara para conseguir a nomeação, a começar por Dirceu.
Fux é, em si, uma prova
torrencial de quanto o STF está longe de ser o reduto de Catões que muitos
brasileiros, ingenuamente, pensam ser.
O caso Fux tem outros
desdobramentos, naturalmente.
O país tem que encontrar,
urgentemente, fórmulas para desvincular a Justiça e o Executivo.
Se com sua espantosa fraqueza
emocional Fux chegou afinal ao STF não foi por ter impressionado pela obra,
pelo saber e pelo caráter.
Foi — como sugerem fortemente os
depoimentos à Folha de Dirceu e dele mesmo, Fux — por ter dito o que os que
definiriam a escolha queriam ouvir.
Não é um bom critério. Não é um
critério justo.
A Justiça tem que manter
distância altiva da política — e da mídia, igualmente. As fotos de alegre
cumplicidade de integrantes do STF com jornalistas como Merval Pereira e
Reinaldo Azevedo são moralmente repulsivas. Que isenção se poderia esperar do
STF ao julgar eventuais causas que envolvam não exatamente tais jornalistas,
peixes pequenos, mas as empresas para as quais trabalham? E que tipo de
tratamento jornalístico os leitores devem esperar de uma relação tão camarada?
Como Feliciano em outra esfera,
Fux representa, hoje, uma crise moral na justiça brasileira, um embaraço.
Como ele não se autonomeou, é
preciso não esquecer que para consolidar a justiça brasileira – e a democracia
— os métodos de nomeação devem ser urgentemente aprimorados.
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Paulo Nogueira: Jornalista , baseado em Londres, é fundador
e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
Fonte: Diário do Centro do Mundo
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