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| Renato Rovai |
A Virada Cultural é um dos
principais eventos da cidade de São Paulo, tanto pelo seu gigantismo de
público, como pelo fato de que no dia em que acontece, a cultura ocupa as ruas
e o centro da pauta. Neste final de semana, isso ficou ainda mais claro. Mesmo
com uma final de Campeonato Paulista programada, o paulistano ficou mais ligado
na Virada Cultural do que no futebol. Isso é algo para se pensar.
O fato de ser um sucesso de
público é algo notadamente importante para a vivacidade cultural da cidade, mas
não significa dizer que ela é um evento que está resolvido. Que não deve ser
melhorado e repensado em alguns aspectos. Antes de entrar nesta seara, porém,
vale um parêtenses. No ano passado, o SPressoSP publicou uma série de
reportagens denunciando que a Virada não era só um evento importante, mas que
também teria se tornado um negócio interessante para algumas empresas e
servidores públicos. Algumas das reportagens dessa série podem ser lidas, aqui,
aqui, aqui e aqui. Vale a pena relê-las para refletir sobre algumas questões.
Uma delas, é a de que uma das pessoas denunciadas naquele episódio continua à
frente da Virada na edição deste ano, mesmo com a mudança do governo. E nem
isso impediu que o ex-prefeito José
Serra acusasse o evento de estar aparelhado pelo PT pelo seu twitter: “ Só me
preocupa que a Virada Cultural seja usada para aparelhamento
político-partidário, o que já começou a acontecer este ano”, escreveu hoje.
A verdade é outra. Neste ano, não
foi uma única pessoa que mandou sozinha na Virada. A atual administração
acertadamente constituiu uma curadoria com pessoas respeitadas no meio
cultural. A comissão participou da definição dos palcos, convidados etc. Muita
gente boa foi convidada para essa curadoria e você pode conhecê-los aqui.
Esse é um avanço que precisa ser
registrado. Essa curadoria da Virada Cultural não pode se desintegrar. Ela pode
até ganhar nos integrantes, mas precisa ser permanente para realizar uma
mudança no seu conceito. Que a Virada seja menos um evento. E seja mais um
processo. O que não significa, em absoluto, terminar com o evento ou torná-lo
algo insignificante.
Muita gente séria já defende isso
há algum tempo em São Paulo. Há uma necessidade de incorporar a lógica das
viradas no dia a dia da cidade. E não apenas em uma data específica. O espaço
público precisa ter mais cultura nos finais de semana e isso pode e deve ser
feito com intervenções na circulação quando necessário. Além disso, o que há
algum tempo já se discute é que a Virada Cultural não poderia ser algo apenas a
se realizar no Centro. E esse foi um dos equívocos desta edição. Tudo foi
canalizado para o Centro, radicalizando uma opção que já ganhava corpo na
gestão Serra/Kassab. Há, na cidade, muitos outros centros, que precisam de
cultura e visibilidade. Por que não colocar a Daniela Mercury para tocar em
Itaquera? Por que não espalhar a Viradinha, que foi uma excelente ideia, pelos
bairros da cidade? Por que não levar programação para a terceira idade para
todos os pontos da cidade, fazendo com que a Virada ganhe um público que não
vai ao Centro de madrugada por motivos óbvios?
Evidente que esse processo seria
impossível de ser construído pela atual gestão que assumiu apenas em janeiro
com a responsabilidade de organizar entre outras coisas, o aniversário da
cidade, parte do Carnaval e agora a Virada Cultural. É muita coisa, para ser
realizada e transformada em curto espaço
de tempo. Por isso é preciso começar a olhar desde hoje para frente. Pensar na
Virada de 2014, que acontecerá nas proximidades da Copa do Mundo.
Além dessa questão da
descentralização e do processo, outra mudança importante é que a Virada
Cultural não pode continuar sendo um balcão de negócios nos dias que a
antecedem. É preciso abrir editais com muita antecedência para que aqueles que
desejarem dela participar se inscrevam e possam ser avaliados pelos curadores.
Outro ponto importante a se resolver é a negociação dos valores dos shows e
atrações. Isso não pode acontecer no varejo. É necessário que se definam faixas
de pagamento e que as atrações sejam classificadas nessas faixas a partir de
critérios bem objetivos. Isso ou que o próprio interessado dispute no segmento
de cachê que ele considera que se encaixa. Por exemplo, serão 50 atrações de
chachê A, 200 de cachê B e 500 de C. O grupo interessado se inscreve para
disputar a participação no cachê que considera sua faixa.
Outro avanço, seria que a escolha
dos palcos da Virada passasse por uma audiência pública com grande antecedência
para que a cidade se envolvesse neste debate da ocupação dos espaços públicos.
Por fim, mas não menos
importante. A grande notícia da Virada nos portais durante o dia de hoje foi a
da violência que teria levado duas pessoas à morte e ferido várias outras. Esse
é um tópico que não pode se perder de vista num evento deste porte. Há quem
esteja levantando a hipótese pelas redes sociais de que o governo do Estado não
teria atuado com a devida responsabilidade. E que a PM teria feito corpo mole
no combate, por exemplo, aos arrastões. Essa matéria do UOL, por exemplo,
também precisa ser lida com atenção. O Ministério Público poderia investigar
essas suspeitas. Mas também a questão da segurança precisa ser pensada na
lógica do processo.
É importante que a Virada
Cultural seja grande, mas não é o seu gigantismo que a define como importante.
Por isso, seria bom que a edição deste ano fosse o início do seu recomeço. E
não a reafirmação do modelo anterior. E se há algo que pode simbolizar essa
renovação é a foto do prefeito Fernando Haddad assistindo, em meio ao público,
ao show dos Racionais MC´s. A periferia
no centro. O centro na periferia. As trocas que a Virada Cultural permite
fazer, precisam ser incorporadas no pensar das cidade.

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