BY BERNARDO GUTIERREZ –
16/05/2013
POSTED IN: ALTERNATIVAS, CAPA,
PÓS-CAPITALISMO

Dois anos depois de ocupar praças
da Espanha, 15M assume nova forma: múltiplos experimentos de relações sociais e
culturais alternativas , numa sociedade em crise
“As velhas manifestações, tão
cinzentas e limitadas, tornaram-se obsoletas e inúteis, o que abriu caminho
para um infinito de possibilidades. Repensamos a ação, a queixa, as relações, o
público, o comum”. No texto coletivo Isso não é uma manifestação, aparecem
detalhes que os meios de comunicação de massas ignoram. Isso não é uma
manifestação não é um exercício de nostalgia. Não é um anseio daquela vibrante
Multidão Que Ocupava as Praças que conformou aquele imprevisível corpo
coletivo, aquela trama de afetos a que alguns chamam de “movimento 15M”.
Isso não é uma manifestação é um
inventário de detalhes mínimos / máximos, de ações, processos, projetos para os
quais servem mal as velhas palavras. Isso não é uma manifestação, dizíamos: “E
nossa imaginação transbordou por completo o espaço do possível, construindo já
novos mundos dentro da velha carcaça deste em que vivemos”. Isso não é uma
manifestação. Isso não é uma soma quantitativa. Isso é mais que uma enumeração
de conquistas. Isso é algo mais que um eco daquele “vamos devagar, porque vamos
longe”.
Alguns meios de comunicação
apressam-se, na Espanha, a enterrar “o que sobra do 15M”. Depois da
manifestação do último domingo, convocada nas principais cidades da Espanha,
alguns colocarão um obituário sobre o 15M. Contarão cabeças, escolherão a foto
mais despovoada. Manipularão inclusive alguma imagem, como se faz nas
ditaduras. Comemorarão o enterrro, isolados em sua cova, refletidos no empanado
espelho midiático do velo mundo. Não olharão para os detalhes, o processo, o
gotejar incessante. Não observarão. Não escutarão. Não lerão este texto.
Certo: o 15M é tão complexo que
custa categorizá-lo, explicá-lo, traduzi-lo. Além disso, os olhos veem o que
estão acostumados a ver, como lembra Amador Fernández-Savater, no recomendável
Ver lo invisible: unicornios y 15M. Mas talvez se possa vislumbrar sua potência
transformadora descrevendo pequenos gestos, sonhos em minúsculas, construções
coletivas, invisíveis para muitos. O 15M não necessita mais de utopia em
maiúsculas, não. Não necessita aquela UTOPIA do maio de 68, aquela estúpida
“praia debaixo dos paralelepípedos” que nunca apareceu. Não necessita porque o
15M já construiu sua própria utopia: dezenas, centenas, milhares de
microutopias em rede. O 15M não necessita de um modelo utópico porque já tem – um,
centenas, milhares – de protótipos reais. Protótipos microutópicos, conectados
entre si, conectados (quase) em tempo real.
Palavras-chaves, sim: prototipo.
“Exemplar original ou primeiro molde em que se fabrica uma figura ou outra
coisa”. A cultura digital, os processos copyleft, a ética hacker tão presentes
nos preâmbulos do 15M impregnaram esta nova revolução de multidões conectadas.
O protótipo, o novo mundo aberto baseado nos processos, substitui o modelo
definitivo. E o 15M não deixou de cozinhar protótipos. Construiu-os
coletivamente, em rede, de forma aberta. Naquela Acampada Sol inicial não havia
apenas perssoas protestando diante do colapso do sistema. Naquelas acampadas
estava o novo protótipo de mundo. E estava nos detalhes. Em suas creches, em
suas bibliotecas abertas, em suas hortas, em seus streamings, em seus
mecanismos analógicos e digitais para propor mudanças. O 15M – seja um
diagnóstico, um movimento, um estado de ânimo ou um conjunto de vínculos
humanos – construiu protótipos. E muitos. Jurídicos, urbanos, culturais,
econômicos, tecnológicos, comunicativos, políticos, afetivos..
A potência do 15M não está na
reação, na (necessária) defesa coletiva do sistema do bem-estar. Sua bomba
poético-real está em sua natureza propositiva, criativa, inovadora. Diante da
cegueira generalizada de nossos políticos, diante do olho torto da mídia,
visibilizar estes protótipos reais, vivos, eportáveis-exportados, é mais
necessário que nunca. Não é uma lista, não. Talvez, um ato de justiça poética.
Um invetnário subjetivo que conforma algo maior – para o que ainda não temos
nome.
Nossa vingança é ser felizes,
estamos dizendo faz tempo.
*******************************************
| Tradução: Antonio Martins

Nenhum comentário:
Postar um comentário