EFEITO NEOLIBERAL: IMPOSTO DO QUARTO VAZIO PROVOCA A MORTE DE UMA SENHORA DE 53 ANOS NA INGLATERRA
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| Ingleses protestam contra o “imposto do dormitório” |
Esses são os resultados da
política de austeridade neoliberal que vem sendo implantada na Europa.
Cobranças absurdas, como a do
imposto do quarto vazio na Inglaterra, e cortes em serviços públicos
essenciais, como saúde e educação, têm levado pessoas à morte.
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| Agenciaeducapolitica Por Cynara Menezes |
Como mostra Cynara Menezes neste
texto, os pobres são quem sempre acaba pagando a conta pela ambição de
concentração de renda e enriquecimento irresponsável de poucos, baseado no
desmantelamento do público em benefício do privado.
Horrores do neoliberalismo: avó inglesa se mata por não poder pagar “imposto do dormitório”
Por Cynara Menezes
(protesto contra o imposto do
dormitório na Inglaterra)
Quem paga a conta da crise na
Europa? Os pobres, claro. Assim como vem acontecendo na Espanha, onde tem gente
se matando por conta dos despejos promovidos pelos bancos, agora é na
Inglaterra que começam a aparecer suicidas por questões econômicas. No último
dia 4 de maio, Stephanie Botrill, de 53 anos, deu fim à própria vida porque não
podia pagar uma nova taxa instituída pelo governo conservador de David Cameron:
o “imposto do dormitório” (bedroom tax). Trata-se de um imposto bizarro que vai
atingir sobretudo os mais carentes, porque é direcionado às casas e
apartamentos administrados pelas prefeituras, onde moram as famílias de baixa
renda, pagando aluguel.
Com o novo imposto, as pessoas
que vivem nestas casas terão de pagar uma taxa extra de 10 libras semanais por
quarto desocupado. Ou seja, se seu filho saiu de casa, você precisa dar uma
grana ao governo por isso. Estima-se que mais de 220 mil famílias serão
atingidas pelos cortes impostos por Cameron nos benefícios sociais. O
primeiro-ministro já passou o facão na educação, saúde e segurança e agora
chega à moradia. Obviamente as novas regras têm provocado protestos no país.
Sindicatos, oposição e até líderes religiosos se uniram sobretudo contra o
malfadado imposto do dormitório, que começou a vigorar no dia 1 de abril.
Stephanie Botrill, que criou os
dois filhos como mãe solteira, estava triste por ter que deixar a casa onde
viveu durante 18 anos porque não tinha como pagar o imposto. Como os filhos
cresceram e foram morar sozinhos, ela teria que pagar, pelos dois quartos
vazios, 80 libras
a mais por mês (cerca de 245 reais), algo impensável em seu apertado orçamento.
Já tinha até empacotado as coisas para ir embora quando tomou a decisão de se
matar. Em um bilhete ao filho, Steven, de 27 anos, Stephanie deixa muito claras
as razões para o ato desesperado: “Não se culpe porque terminei com a minha
vida. Os únicos responsáveis estão no governo”.
Como no Brasil, os jornais
ingleses também têm a tradição de não noticiar suicídios, mas, neste caso, como
envolvia políticas públicas, abriram uma exceção. Integrantes do gabinete de
Cameron tentaram minimizar o caso. Um ministro lamentou a morte “trágica”, mas
disse ser “errado” conectá-la às políticas do governo, como se a própria
Stephanie não tivesse feito isso em sua carta suicida.
O que mais me impressiona, além
da crueldade destas leis supostamente para “resolver” a crise (eu duvido), é a
possibilidade de se instaurar no país uma sociedade policialesca a la 1984 de
George Orwell –ou à moda do regime stalinista que o livro criticava. Quem vai
denunciar os moradores que têm quartos sobrando? Haverá dedos-duros oficiais?
Eles serão premiados? Se for feita pelo governo, como será esta vigilância?
Todo mês irá um fiscal às casas para verificar quantas pessoas estão lá
morando? E o que é pior: para onde irão as pessoas que não podem pagar o
imposto do dormitório, como Stephanie? Tristes tempos.


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