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| Por Altamiro Borges |
Em editorial publicado nesta
terça-feira (21), o jornal O Globo confessa que está com medo do desenrolar das
investigações da Comissão da Verdade. A famiglia Marinho, que apoiou o golpe
militar de 1964 e que foi recompensada pela ditadura na construção do seu
império midiático, faz um apelo para que as apurações sejam limitadas: “A
anistia foi concedida no Brasil de forma recíproca, mediante ampla negociação
entre o regime e a oposição, como parte do processo de redemocratização,
realizado sem traumas, e que, por isso mesmo, resultou numa democracia
estável... Não cabe à Comissão encaminhar qualquer nome ao Ministério Público e
à Justiça para ser processado por supostos crimes cometidos na repressão
política, nem propor qualquer inciativa neste sentido. Seria, no mínimo,
ilegal”.
Na prática, o editorial tenta
enquadrar os membros da Comissão. Um dia antes, alguns deles propuseram
explicitamente a revisão da lei da anistia e a punição dos carrascos da
ditadura. A notícia foi publicada por Roldão Arruda, no jornal Estadão. “Ganha
corpo entre seus integrantes a ideia de que o relatório final da comissão, a
ser divulgado no segundo semestre de 2014, deve recomendar a revisão da
interpretação legal em vigor e a responsabilização penal de agentes de Estado
que cometeram graves violações de direitos humanos no período da ditadura militar.
Atualmente, eles não podem ser responsabilizados pelos crimes que estão sendo
apurados pela comissão. Integrantes que defendem a recomendação da mudança
argumentam que a lei que criou o grupo, em 2011, incluiu entre as suas tarefas
sugerir ao Estado brasileiro medidas eficazes para que as violações não se
repitam. Uma dessas medidas seria o julgamento de militares e policiais
envolvidos em casos de sequestro, tortura, ocultação de cadáveres e outros
crimes na ditadura”.
Entre os proponentes desta mudança
está o sociólogo Paulo Sérgio Pinheiro, que não pode ser acusado de
revanchista. “Indagado se a comissão vai recomendar que os responsáveis pelos
crimes sejam julgados, ele diz que o assunto ainda está em análise.
Pessoalmente, diz ser favorável a recomendar que o Brasil acate a decisão da
Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) sobre o tema. Em novembro de
2010, o tribunal condenou o Brasil numa ação movida por familiares dos
guerrilheiros mortos no Araguaia e impôs ao Estado a obrigação de esclarecer as
mortes e localizar os corpos. Ainda considerou inaceitável a concessão de
anistia aos perpetradores de crimes contra a humanidade. Naquele mesmo ano,
porém, o Supremo Tribunal Federal decidiu manter a Lei de Anistia”, relata o
jornalista do Estadão.
O editorial de O Globo evidencia
que os trabalhos da Comissão da Verdade ainda poderão resultar em avanços
significativos, ajudando o superar o atraso do Brasil na condenação dos crimes
da ditadura. A famiglia Marinho está preocupada, o que é um bom sinal. Ela
teme, inclusive, por uma necessária convocação dos barões da mídia para
explicar as suas ligações com a ditadura e seus carrascos assassinos.


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