segunda-feira, 27 de maio de 2013

O novo 'custo Brasil' para as velhas mentes europeias





por Flávio Aguiar
Pedintes nas ruas de países da Zona do Euro, visto cada vez em maior número, por conta das 'austeridades' econômicas
O custo-Brasil é muito alto. Não se trata daquele “custo” sempre marretado pelo ortodoxos da superstição neoliberal, que se refere a impostos muito altos, salários aumentando além da conta, intervencionismo estatal, etc. etc. etc. Não, o custo Brasil a que me refiro é outro. Trata-se do custo de ver-se um país deste tamanho fazendo sombra para aquela ortodoxia. Esta vem devastando a Europa em todos os sentidos. O último destes sentidos a vir à tona de modo dramático está na sua juventude.

Os números do desemprego entre aqueles de 18 a 25 anos na Zona do Euro são o mais recente índice da catástrofe. Os dados são de estatísticas da própria União Europeia:

Alemanha,  7,9%; Áustria, 9,9%; Holanda, 10,3%; Malta, 16%; Luxemburgo, 18,5%; Estônia, 19,4%; Finlândia, 19,5%; Bélgica, 19,6%; França, 26,9%; Eslovênia, 27,1%; Chipre, 28,4%; Irlanda, 30,9%; Eslováquia, 35,9%; Portugal, 38,6%; Itália, 38,7%; Espanha, 55,5% e Grécia, 59,4%.

O aspecto mais assustador destes números está na formação de uma geração inteira de desiludidos com tudo: os “sem-esperança”.

A Suécia não está na Zona do Euro, mas tem um número elevado de desempregados entre os jovens filhos de imigrantes estrangeiros.  Especialistas vêm apontando este alto indíce como a moldura das arruaças que tomaram conta dos bairros onde estes vivem e mesmo de outros na capital, Estocolmo, durante a semana que ora termina. Centenas de carros foram queimados, delegacias de polícia foram apedrejadas, lojas tiveram vitrines espatifadas em pelo menos cinco noites seguidas de enfrentamentos.

A avaliação de acontecimentos como este e dos números do desemprego acima relatados varia muito conforme a posição do avaliador. Mas a maioria das análises correntes ressalta algum extremismo político como ponto de chegada deste descontentamento. Há os que apontam o extremismo de esquerda como o perigo subjacente; outros, o de direita. Fico entre estes.

Por mais que a desesperança desta nova “juventude transviada”(título brasileiro do filme “Rebel without a cause”, de Nicholas Ray, que consagrou James Dean, filmado em 1955) possa motivar contestações ao desarranjado sistema econômico atual, a espinha dorsal deste desespero permanece sendo a descrença na política.

É certo que é difícil manter um interesse pela atual política predominante em grande parte dos países europeus, em que as diferenças entre os social-democratas e os conservadores se reduziu a quase zero durante as décadas que se seguiram à queda do muro de Berlim e ao fim da União Sovíética.

Em muitos países, como na Alemanha, os social-democratas (no caso aliados aos Verdes) foram os introdutores das reformas neoliberais mais radicais, caso também da Espanha; ou seguiram o modelo inaugurado na Europa por Margareth Thatcher, como no caso do Reino Unido, do trabalhista Tony Blair.

Durante este tempo a esquerda foi sendo reduzida muitas vezes a uma situação quase de “reserva ecológica”, de que apenas começa a sair recentemente, como no caso da campanha de Mélenchon na França, que ajudou a “puxar” o programa de François Hollande mais para a esquerda, embora este venha zigue-zagueando agora que está no governo.

Na Alemanha, a Linke – partido de egressos do Partido Social-Democrata e militantes socialistas de diferentes procedências na antiga Alemanha Oriental – oscila entre os 6% e os 10% na preferência da maior parte do eleitorado tendo, entretanto, conseguido algumas votações expressivas em alguns casos, como em Berlim, onde chegou a participar do penúltimo governo da cidade-estado, e em estados do leste.

Enquanto isto o Brasil vai puxando a América Latina mais para a esquerda e para o otimismo em relação ao futuro, o que mostram recentes pesquisas como a publicada pelo jornal Valor, em que 59% avaliam positivamente a situação econômica do país e 88% afirmam que 2014 será melhor do que 2013. Recentemente um jornal britânico sentenciou que este é um otimismo “de fachada” e que ele disfarça o verdadeiro “mal-estar” por detrás, graças a uma taxa de investimento muito baixa.


A crítica deste jornal ao governo de Dilma Rousseff, apontados ambos  como “o” e “a” responsáveis  pelo “mal-estar” aludido, mostra o quão incômoda se tornou a sombra que o Brasil projeta sobre as políticas neoliberais que hoje são moeda corrente em solo europeu, conquistando e ao mesmo tempo devastando corações e mentes no Velho Continente, que, se continuar assim, se tornará de fato cada vez mais velho e destituído de um senso de futuro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário