Seguir os passos de JB vai levar o grupo todo à desmoralização. |
PAULO NOGUEIRA |
A única explicação para a
ferocidade com que Joaquim Barbosa vem lidando com qualquer coisa relativa aos
recursos do mensalão só pode repousar numa tentativa de apagar os próprios
rastros naquele que foi um dos piores momentos da história judiciária nacional.
É como se ele acreditasse que
mantendo as sentenças duríssimas os erros colossais como que desapareciam sob o
tapete.
Mas não é bem assim. Ele não tem
o poder de controlar as evidências que foram se acumulando pós-veredito sobre o
tortuoso trabalho do STF.
Poucos meses fizeram toda a
diferença.
Desmontado o circo, desfeita a
gritaria manipuladora e interessada, foi ficando cada vez mais claro que o
julgamento foi tragicômico.
O pior papel coube exatamente a
Barbosa, que deu o tom vitriólico (e equivocado, como sabemos agora) do
julgamento.
Ele teve seus minutos de glória
como heroi da mídia. Chegou a ganhar uma capa da Veja na qual era chamado –
risos, por favor – de “menino que mudou o Brasil”.
Ora, ele não mudou sequer o STF.
Foi incapaz de impedir agressões éticas elementares como as relações entre Fux
e um escritório de advocacia.
Foi incapaz ele próprio de
estabelecer um padrão ético exemplar ao fazer coisas como convidar – pagar —
jornalistas para que dessem a sua miserável visita à Costa Rica, da qual afinal
nada restou de relevante, um tom retumbante de excursão napoleônica.
Isso para não falar nos 90 000
gastos numa reforma de banheiros, por causa dos quais ele chamou um jornalista
de “palhaço”.
Inepto para mudar o STF ele
mudaria o Brasil?
Que ele já deixou de ser heroi
para se converter no que é, uma figura lastimável pela mesquinharia e
prepotência, está claro.
Para a posteridade ele aparecerá
do jeito real, e não fantasiado de Batman ou Super-homem.
Mas o STF não precisa
acompanhá-lo em sua louca cavalgada.
O plenário do Supremo, que
examinará a pertinência dos recursos, está desde já na obrigação de deter
Joaquim Barbosa.
Pelos erros, e pela severidade
das penas físicas e morais, os réus têm que poder esgotar todas as formas de
recursos.
Para a história, Joaquim Barbosa
já é um caso perdido.
Mas os demais ministros não têm
por que acompanhá-lo.
O Supremo tem que se erguer
moralmente.
Meio século atrás, o Supremo era
respeitado quase que nos limites da veneração.
O jornalista Carlos Castelo
Branco, em seu livro sobre a renúncia de Jânio, lembra um episódio que mostra
isso.
Corria o boato de que o ministro
da Justiça de Jânio, Pedroso Horta, sairia do gabinete para se transferir para
o Supremo.
Castelinho, que era assessor de
imprensa de Jânio, perguntou a Horta sobre o boato.
“Não”, disse Horta. “Eu não tenho
estatura moral para o Supremo.”
Uma frase dessas hoje pareceria,
infelizmente, uma piada.
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