Votação do texto, que deveria ocorrer hoje na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, foi adiada para que projeto seja melhor debatido
por Cida de Oliveira |
São Paulo – A Comissão de
Assuntos Econômicos do Senado adiou a votação do substitutivo do senador José
Pimentel (PT-CE) ao Plano Nacional de Educação (PNE), que seria realizada hoje
(14), após pedido coletivo de vistas feito pelos demais parlamentares do
colegiado – sob argumento de que o projeto precisa ser melhor debatido. A
votação deve ficar para a próxima terça-feira (21). O parecer de Pimentel
promove várias alterações ao texto aprovado na Câmara e tem sofrido fortes
críticas de entidades do setor.
O texto vincula à educação todos
os royalties do petróleo nos contratos celebrados a partir de 3 de dezembro de
2012. Esta seria a principal fonte de recursos para a União bancar a ampliação
gradual dos seus investimentos, que devem chegar a 10% do Produto Interno Bruto
no décimo ano, conforme a Meta 20 do PNE.
O relator considera investimento
público em educação não apenas o dinheiro aplicado nas escolas e universidades
públicas, mas também os recursos investidos mediante convênios para garantir a
ampliação de vagas gratuitas, a exemplo do Prouni, do Pronatec, do FIES e de
outros convênios existentes com escolas particulares.
Este é um dos principais pontos
que frustraram entidades que atuam na defesa da educação pública. "Estamos
frustrados. Esperávamos um texto melhor, que desse ao poder público a
responsabilidade de ampliar a educação básica, profissional e superior, em estabelecimentos
públicos de ensino. E não um que piora o texto aprovado na Câmara", disse
o coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara.
A rede reúne entidades como a ONG
Ação Educativa, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), o
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a União Nacional dos
Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Fundação Abrinq pelos Direitos da
Criança e do Adolescente e Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil
(Mieib), entre outras.
Segundo Cara, o substitutivo
preocupa porque permite a expansão do ensino por meio de parcerias
público-privadas, de repasse de recursos públicos para entidades particulares
que, em sua maioria, não ofereceriam serviços de qualidade.
A nova redação traz retrocessos,
avalia o coordenador da campanha. Entre eles, propor que, ao final do período
de vigência do PNE, todas as crianças até os 6 anos de idade estejam
alfabetizadas. Para a campanha, o ideal é congregar no texto a idade e a série.
O texto original, que inspirou o
Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), aprovado recente,
determina a alfabetização de todas as crianças até os 8 anos de idade e ao
final do terceiro ano do ensino fundamental. "A menção ao terceiro ano é
necessária, pois a gestão dos sistemas de ensino não se orienta pela idade dos
alunos e sim pelos anos letivos contados dentro de um ciclo ou etapa da
educação básica. É melhor garantir a alfabetização plena aos 8 anos de idade e
ao final do 3º ano do ensino fundamental, tal como já foi estudado e
estabelecido pelo PNAIC, do que alfabetizar rápido e mal todas as crianças até
o sexto ano de idade", disse Cara.
Ampliação
Outro problema está relacionado
às metas de ampliação do ensino superior e profissional. Conforme Cara, o poder
público fica livre da responsabilidade de expandir a educação profissional e o
ensino superior em estabelecimentos próprios, marcadamente aqueles que
apresentam melhor qualidade e que tem sido centrais ao desenvolvimento do país.
A campanha teme que o plano, do
jeito que está, venha a permitir programas de bolsas de estudo em
estabelecimentos bem menos qualificados, o que é muito menos custoso, mas nada
estratégico em termos econômicos. Em resumo, o Brasil precisaria superar sua
tradição de apenas expandir matrículas. "É preciso incluir os jovens em
cursos de educação profissional e superior que ofereçam educação de
qualidade", disse.
Ainda segundo ele, o relator
retirou a meta intermediária que determinava o investimento público em educação
pública equivalente a 7% do PIB até o quinto ano de vigência do PNE. "Com
isso, o próximo presidente estará livre de ampliar o financiamento da educação
pública."
Para o texto de Pimentel, o
investimento público de 10% do PIB menciona apenas o termo “educação”,
permitindo a transferência de recursos públicos para estabelecimentos privados,
sem qualquer delimitação sobre os programas a serem beneficiados, nem os
necessários critérios de transitoriedade. "Se prevalecer o texto do relator,
abre-se a possibilidade de saída de recursos públicos para escolas particulares
em vez de se fortalecer as escolas e universidades públicas – que passam a ter
o risco de enfraquecimento."
O relator desobriga também o
poder público, em especial a União, de implementar o mecanismo do CAQi (Custo
Aluno-Qualidade Inicial) após dois anos de vigência do PNE, conforme fixado
pelo texto aprovado na Câmara. O CAQi é a principal referência para se garantir
a boa gestão dos recursos do PNE. Criado em 2007 pela Campanha Nacional pelo
Direito à Educação, este mecanismo reconhecido pela comunidade educacional,
inclusive Conselho Nacional de Educação, determina quanto deve ser aplicado,
por aluno ao ano, para as escolas públicas garantirem, ao menos, um padrão
mínimo de qualidade, conforme critérios determinados pela LDB (Lei de
Diretrizes e Bases da Educação) e considerando valores diferenciados para cada
etapa da educação básica.
Outro retrocesso é a ressalva,
pelo relator, de que a inclusão de pessoas com deficiência na educação regular
seja garantida “em casos específicos atestados por laudo médico competente,
validado pelos sistemas de ensino”. Para o coordenador da campanha, há dois
equívocos: o primeiro, é que o direito à educação é humano e constitucional,
sem ressalvas, e em segundo, traz de volta o paradigma antigo segundo o qual
deficiência é doença e não condição. "Isso coloca em risco avanços que o
MEC vem conseguindo na inclusão de pessoas com deficiência na escola
regular."
A assessoria de Pimentel informou
que o senador estava com a agenda lotada e não poderia falar com a RBA.
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