
![]() |
| Portugal - MAS |
A cada notícia
que recebemos sobre a economia do país temos um choque.
O desemprego alcançou um novo
máximo histórico, 17,7%, no primeiro trimestre deste ano, segundo o Instituto
Nacional de Estatística (INE).
Isso significa 952.200
trabalhadores desempregados ou, em números mais realistas, mais de 1 milhão, se
forem considerados aqueles que simplesmente deixaram de procurar emprego
durante um mês.
E, como todo mundo sabe e sente,
não foram só os empregos que desapareceram, os salários também. A remuneração
média dos trabalhadores portugueses caiu, como resultado das reduções salariais
e perdas de empregos, 7,2%. É claro que alguns se safam, e muito bem. É o caso
dos presidentes executivos do PSI-20 (as 20 maiores empresas cotadas na Bolsa
de Valores de Lisboa, como EDP, Jerónimo Martins, Sonae ou BES). Para fazerem o
trabalho sujo (despedir trabalhadores, reduzir salários, ajudar as
privatizações, especular e outros arranjos pouco recomendáveis) tiveram os
salários aumentados em 6% em 2012, face ao ano anterior, e receberam mais de 15
milhões de euros.
Isso numa situação em que o
Produto Interno Bruto (PIB) português também desmorona, chegando a cair 3,9% no
primeiro trimestre deste ano face ao mesmo período de 2012. Nada que todo mundo
já não esperasse, apesar do cinismo revoltante de Passos, Gaspar e sua
camarilha.
A receita desses senhores e dos
seus comparsas, do Banco Central Europeu (BCE) ao FMI, de François Hollande a
Merkel, é aquilo que se vê: a crise na zona euro aprofunda-se e atinge também
os países ricos, com a França oficialmente em recessão e até a boa aluna
Holanda a registar uma queda, também no último trimestre, de - 0,1%. Em toda a zona
euro a recessão está instalada, e o PIB no último trimestre foi de - 0,2%.
Diante desse quadro desalentador,
o que faz o governo de Passos Coelho? Quer ver mais "sangue"!
Destruir o estado social, a partir da destruição do seu principal componente, os
trabalhadores da Função Pública: cortar mais 50 mil empregos e aumentar o
horário de trabalho de 35 para 40 horas semanais e reduzir o valor das
reformas, inclusive dos já reformados. Tem mais: cortar na saúde, educação e
prestações sociais, aumentar a idade da reforma para 66 anos e taxar mais uma
vez os pensionistas. Para quê? Poupar 4, 8 mil milhões de euros às nossas
custas.
Nada disso é feito ao acaso, faz
parte da estratégia da troika (Comissão Europeia, BCE e FMI) para os países
mais pobres da zona euro: aproveitar a crise para destruir as nossas conquistas
sociais. O discurso para justificar essas e outras medidas chamadas de
"austeridade", querendo nos fazer crer que são necessárias para
baixar o défice público, pagar a dívida e reformar o estado, está a ser
desmoralizado pelos factos. O défice não para de aumentar, assim como a dívida,
enquanto a reforma do estado traduz-se, exclusivamente, em pior saúde e
educação, mais miséria e cortes das ajudas sociais.
Diante da brutalidade de mais
esse ataque do governo, é preciso uma resposta à altura. Infelizmente, não é
isso que estamos a ver. Um triste exemplo foi dado no Congresso da Federação
Nacional dos Professores (Fenprof) no início deste mês. Os professores são hoje
uma das classes profissionais mais atingidas pelas medidas do governo, que
agora ainda quer aumentar o seu horário de trabalho e colocar entre 10 a 13 mil na mobilidade
especial (o que implica receber apenas 1/3 do salário ao fim de um ano e
desemprego após ano e meio).
E o que o Congresso da Fenprof
aprovou? Uma campanha nacional em defesa da Escola Pública e uma manifestação
nacional para... 22 de junho, quase dois meses depois de o governo ter
anunciado as novas medidas. Sobre a possibilidade de greve, estaria apenas no
horizonte. O presidente do SPGL, António Avelãs, em entrevista no site do
sindicato, reconheceu que o congresso deixou pouco clara a sua posição sobre
greve aos exames e/ou avaliações e que, diante das barbaridades do governo,
"talvez seja precisa uma reação mais incisiva". Talvez?
Há duas manifestações convocadas
para protestar contra as medidas do governo. A 25 de Maio, chamada pela CGTP, e
a 1 de Junho, pelo coletivo Que se Lixe a Troika! Que sejam o início de uma
mudança de orientação por parte do movimento sindical e político do país, com
manifestações mais objetivas e greves mais duradouras e unitárias. Para demitir
o governo não basta retórica, é preciso fazer por isso.

Nenhum comentário:
Postar um comentário