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por Euler de França Belém |
Lúcio Mauro: ator da Globo que
era amigo dos militares do porão. “Memórias de uma Guerra Suja”, depoimento do
delegado Cláudio Guerra aos repórteres Marcello Neto e Rogério Medeiros, conta
que os militares do porão articulavam no restaurante Angu do Gomes, no Rio de
Janeiro. Lá, com anuência dos proprietários, o coronel Freddie Perdigão e o
comandante Antônio Vieira “decidiam” os caminhos da repressão e quem ia morrer.
“O Angu do Gomes fazia parte de
um complicado esquema que arrecadava fundos para as nossas atividades. Ali
aconteceram vários encontros da nossa irmandade, manipulados habilmente pelo
coronel Freddie Perdigão. Ali conspiramos contra [o presidente Ernesto]
Geisel, Golbery [do Couto e Silva] e [João] Figueiredo. No restaurante foram
planejados assassinatos comuns e com motivações políticas, e discutidos os
vários atentados a bomba que tinham como objetivo incriminar a esquerda e
dificultar, ou impedir, a redemocratização do país”, historia o livro.
Há informações sobre contatos de
atores com figuras da repressão, infelizmente mal exploradas por Cláudio Guerra
e pelos repórteres. O ator Lúcio Mauro, da TV Globo, “participava dos
encontros” com militares e chegava a cozinhar para eles. O delegado não avança
sobre qualquer relacionamento mais sério entre o humorista e a ditadura. O ator
Jece Valadão “saía em operações” com os policiais, mas não em missões
políticas. “Gostava de ver a execução de bandidos e Mariel Mariscot o levava.”
Carlos Imperial, Oswaldo Sargentelli, Ciro Batelli e José Bonifácio de
Oliveira Sobrinho, o Boni, frequentavam o Angu do Gomes. Batelli seria ligado
aos bicheiros Castor de Andrade e Ivo Noal. Os bicheiros apoiavam, com
logística e dinheiro, as ações dos homens do porão.
O apresentador de TV Wagner
Montes também mantinha ligações com os homens do porão, notadamente àqueles
ligados ao delegado Fleury, como Fininho, Joe e Mineiro. “Eram inseparáveis.” O
cantor, ator e comediante Moacir Franco também “cooperava”.
Curiosamente, ao resenhar o
livro, a maioria das publicações ignorou as ligações dos atores, jornalistas e
jornais com militares ligados à tortura de militantes da esquerda. Cláudio
Guerra declara: “A ‘Folha de S. Paulo’ apoiou informalmente as ações da Oban.
Os carros que distribuíam jornais eram usados em campanhas pela prisão de comunistas.
Esses carros eram muito úteis porque disfarçavam bem, ninguém suspeitaria que
membros da Oban estivessem ali dentro preparados para agir”. Os repórteres
Marcelo Netto e Rogério Medeiros apressam-se, numa nota de rodapé, a defender o
jornal: “A direção da ‘Folha’ sempre negou ter conhecimento do uso de seus
carros para isso”. Na verdade, Octávio Frias de Oliveira, o falecido publisher,
admitiu, sim, que o uso dos veículos era (é) um fato, mas garantiu ao filho,
Otavio Frias Filho, que não tinha participação pessoal nenhuma com os
militares. A história está registrada na biografia de Frias pai e no livro
“História da Imprensa Paulista”, de Oscar Pilagallo. Supostamente, não havia
como reagir. Mas os carros do “Estadão” não foram utilizados.
Outra história não mereceu
registro nas resenhas: “A bomba que explodiu na casa do dono das Organizações
Globo foi, na verdade, parte de uma estratégia formulada por ele mesmo —
Roberto Marinho. Foi simulado. A ordem partiu do coronel Perdigão, e eu mesmo
coloquei a bomba, mas tudo foi feito a pedido do empresário, para não
complicá-lo com os outros veículos de comunicação, para se defender da
desconfiança de suas relações com os militares. Para todo mundo ele foi a
vítima. Roberto Marinho estava ficando muito visado pela esquerda e pela
própria imprensa. Achavam que ele apoiava a ditadura”. Cláudio Guerra contou
com o apoio do sargento Jair, de um tenente e do policial civil Zé do Ganho.
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