Leandro Fortes |
Dei-me ao trabalho de macular minha manhã de domingo, dia 7, e ler a
matéria da Veja sobre a tal delação premiada de Paulo Roberto
da Costa, ex-diretor da Petrobras.
Como era de se esperar, o texto não tem nem uma mísera prova e está
jogado naquele apagão de fontes que, desde 2003, caracteriza o jornalismo
denunciativo de boa parte da mídia nacional.
A matéria elenca números e nomes sem que nenhum documento seja
apresentado ao leitor, de forma a dar ao infeliz assinante uma mínima chance de
acreditar naquilo que está escrito. Nada. Nem uma fotocópia do cabeçalho do
inquérito da Polícia Federal.
O autor do texto, então, deve ter lançado mão de duas opções, ambas
temerárias no ofício do jornalismo:
1.
Teve a orelha emprenhada por uma fonte da PF – agente
ou delegado – e decidiu publicar a matéria mesmo sem ter nenhuma prova de nada.
Dada as circunstâncias da Veja e a maneira como seus
repórteres ascendem dentro da revista, esse tipo de irresponsabilidade tanto é
admirado quanto estimulado;
2.
Inventou tudo, baseado em deduções, informações
fragmentadas, desejos, ilusões e ordens do patrão.
No texto, uma longa e entediante sucessão de clichês morais, descobre-se
lá pelas tantas que os depoimentos estão sendo gravados em vídeo e
criptografados, para, assim, se evitar vazamentos.
Logo, é bem capaz que Veja, outra vez, faça esse tipo de
denúncia sem que precise – nem se sinta pressionada a – jamais provar o que
publicou. Exatamente como o grampo sem áudio entre o ministro Gilmar Mendes e o
ex-mosqueteiro da ética Demóstenes Torres.
Novamente, o Frankenstein jornalístico montado pela Veja visa,
única e exclusivamente, atingir o PT às vésperas das eleições, a tal “bala de
prata” que, desde as eleições de 2002, acaba sempre saindo pela culatra da
velha e rabugenta mídia brasileira.
O esqueminha de repercussão, aliás, continua o mesmo: sai na Veja,
escorre para o Jornal Nacional e segue pela rede de esgoto dos jornalões
diretamente para as penas alugadas de uma triste tropa de colunistas.
Embrulhado o pacote, os suspeitos de sempre da oposição se revezam em
manifestações indignadas e em pedidos de CPI.
Uma ópera bufa que se repete como um disco arranhado.
Mas é o que restou à combalida Editora Abril, depois que a candidatura de
Aécio Neves morreu junto com Eduardo Campos naquele trágico desastre de avião.
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